Perplexidades.
A nossa personalidade é o que determina o que vestimos, onde vamos, com quem nos relacionamos. Configura as identidades. A Web, ao contrário, despersonaliza; anula as identidades.
Até o final do século passado, havia a esperança de que as personalidades poderiam se defender por vácuos íntimos de não-comunicação. No início deste século surgiu a esperança de que a sobrecarga de lixo informacional esgarçaria as malhas opressivas das interações sociais. Nem a emancipação, nem a catástrofe ocorreram.
Vieram as redes digitais.
Nas redes, as teias de comunicação reconstroem-se continuamente. Erigem um mundo em que as pessoas formam agremiações sem uma condição de pertencimento. Quase tudo o que nelas flui permanece no limbo do presente contínuo que, para os eruditos medievais, foi uma das definições do Inferno.
A Internet destrói as personalidades porque é constituída pelos que a integram e não pela eletrônica que a serve. Inexistem fios. Só conexões. Mãos dadas, mentes emparelhadas, nós não caímos em uma armadilha: nós somos a armadilha. Conectores ocos, transumanos sem umbigo, instauramos a era da cultura erigida sobre o vazio. Somos os Adãos e as Evas do nada.
Good!
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