Epistemologia.
Aristóteles ensinava caminhando no peripatos, uma alameda situada nos jardins do Liceu. Nessas andanças, mestre e discípulos discutiam as questões filosóficas mais profundas. Emanuel Kant, todos os dias, às três e meia da tarde em ponto, saía de sua casa para um passeio na alameda de tílias que hoje se chama Passeio do Filósofo, em Königsberg. Rousseau deixou escrito que “vagar com bom tempo, numa terra bonita, sem pressa, e ter por fim da caminhada um objetivo agradável: eis, de todas as maneiras de viver, aquela que mais me agrada”.
Thoureau foi um caminhante. Dizia que os passeios solitários o tornavam criativo. Nietzsche percorria diariamente longas distâncias por cerca de 6 a 8 horas e depois se entregava a uma escrita incessante, na qual colocava as ideias então surgidas. A consolidação máxima das suas peregrinações sem destino consta de uma carta publicada no livro O Viajante e sua sombra: “Tudo, … escreveu … a não ser por algumas linhas, foi pensado durante os trajetos e rabiscado a lápis em seis caderninhos”. Também na A Gaia Ciência encontra-se o aforismo: “Não escrevo apenas com a mão: o pé também quer estar presente”.
O perambular nos deixa disponíveis à recepção de formas e ideias difíceis de encontrar em repouso ou na marcha intencional. Beethoven caminhava em círculos no seu quarto. Darwin pelo jardim. Rimbaud passeava a esmo. Freud, depois do almoço. Einstein, flanava. Até hoje Stephen King caminha pela manhã. Pessoas tão diferentes que tiveram e têm no caminhar a estratégia para a renovação do espirito que leva à descoberta e à invenção.