Ética.
A filosofia moral, influenciada por Wittgenstein rejeita o essencialismo, a doutrina da natureza humana estática. Afirma que, da mesma forma que as crianças captam as práticas e regras da família ou que adquirem um determinado sotaque, nós traduzimos todo conceito para o espaço-tempo social ao qual pertencemos.
Do ponto de vista não-essencialista, a eticidade decorre invencivelmente da forma de vida em que estamos imersos e da nossa inserção nela. A conduta moral é conformada pelo que, em outra chave, Bourdieu denominou de habitus: o sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações.
A comunicação instantânea intensificou o que Wittgenstein havia assinalado. Mediante abstração imaginativa, habilitamo-nos a reconhecer que outras formas de vida admitem o incesto, o assassinato religioso e práticas segregacionistas que são, para nós, desconhecidas, estranhas e repugnantes.
O problema ético que hoje enfrentamos é menos o da intolerância do que o da diluição das identidades. A destribalização – um termo criado por McLuhan – nos fez esquecer que decodificar os conceitos morais de outras formas de vida não significa que devamos as compartilhar, aceitando passivamente uma aculturação degradante.