O trabalho naturalizado e desnaturante.

Trabalho.

A palavra “trabalho” conota algo que inexiste como entidade substantiva. Uma categoria gerada mediante abstração dos traços particulares de entidades individuais. Difere em essência do conceito expresso pela palavra “trabalhadores”, que denota um conjunto real de humanos.

Não é possível determinar características que distingam o trabalho de outras atividades societárias. Os poderes e as regras que incidem sobre a atividade laboral são aquelas que Durkheim atribuiu ao direito: forças exteriores que conduzem a adotar um comportamento determinado, com capacidades imperativas e coercitivas em virtude das quais essas forças se impõem.

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EPISTEMOLOGIA: Compreender, explicar, entender, preconizar.

Epistemologia.

por Igor Morski

Compreender é o ato de alcançar os elementos essenciais de uma situação. Explicar é o ato de tornar inteligível o compreendido. Entender é o ato que precede e torna possível pautar a ação racional.

Entendemos nos explicando, isto é, “lendo” a memória e a circunstância da mesma forma que lemos um texto: tratando de inferir significados para que possamos apreender o mundo e a nós mesmos.

A visão oitocentista, de Marx à Comte, procurou compreender a gênese e a projeção da vida social. Não chegou a entendê-la. Insistiu sobre a essencialidade da sociologia numérica, da demografia computacional e da investigação estatística. Graças a esta forma de ver, até hoje nada se perquire que não seja o antecipado. As regularidades que se constata repousam sobre convicções, sobre convenções, sobre incompreensões.

Os saberes acadêmicos se cristalizaram. Não encontram significados, mas congruências. Ignoram, ou preferem esquecer, que a ordenação econômica ou as estruturas organizacionais em que estamos naufragados são artificialidades.

As epistemologias dominantes nas ciências sócio-humanas, produtos normativos vencidos, preceituam o futuro como repetição do ocorrido. Buscam solucionar dificuldades da existência que já não vigem. São incapazes de descobrir o real ou de pensar ordenamentos socioeconômicos diferentes dos consagrados. Propõe-se entender sem ler, sem decifrar os signos sussurrantes do passado, sem escutar os gritos lancinantes do presente.

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