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Abed Alem
Jacques Derrida (1930-2004), filósofo terminal do século XX, filósofo inaugural do século XXI, demonstrou o esgotamento da capacidade explicativa do idealismo, da semiologia e das práticas analíticas que se fecham sobre seus sistemas pré-circunstanciados, pré-históricos, pré-conceituosos.
A “desconstrução” que inventou é uma variante da Destruktion, heideggeriana. Consiste em redesenhar criticamente o que Kuhn denominou de paradigma: o conjunto articulado de conceitos, práticas, métodos, instrumentos e técnicas que vige em uma determinada época e circunstância.
Desconstruir é rescindir uma estrutura para fazer aparecer seu esqueleto. O procedimento abandona a pretensão do conceito-signo, de ter acesso às coisas mesmas, em favor do conceito-rastro, do rastreamento do subjacente, do que foi apagado pelo tempo, pelas convenções, pelos espaços, pelas certezas.
Trata-se de uma analítica (gr. análusis, dissolver os laços) radical (até a raiz) dos conceitos e dos discursos. De deslocar os objetos, as ideias, os valores da funcionalidade estabelecida. De despolarizar dicotomias como homem/mulher, noite/dia, etc., e como o cortejo de oposições implícitas na metafísica – dentro/fora; essência/aparência; originário/derivado …
Derrida se esforçou para cunhar termos que não carregassem em si nenhuma definição precisa. “Indecidíveis”, “quase-conceitos”, que remetessem a objetos, sem darem conta de um significado fechado. Como “différance” em lugar de “différence“. Com isto, ele instaurou uma forma de ver autônoma, perturbadora, sediciosa. Um “racionalismo incondicional”, que descobre nas fraturas e incongruências do estabelecido os lapsos, os hiatos, os traços, expondo a fragilidade das significações, as cinzas das reduções, os resíduos das intenções.
Derrida inventou uma heurística a partir da identificação do inapreensível. Provou que só há “invenção” e “descoberta” quando se deixa de encontrar o que estava antecipado. Demonstrou que existem sempre e indefinidamente outras instâncias de sentido adormecidas, apagadas pela história, pela ideologia, pelo conforto da repetição. Que a única certeza é a de que não existem certezas.
UTILIZE E CITE A FONTE.
Derrida, Jacques (1973). Gramatologia. Tradução Mirian Schneiderman e Renato Jeanine Ribeiro. São Paulo. Editora Perspectiva
Derrida, Jacques (1991). Margens da filosofia. Tradução de Joaquim Torres Costa & Antônio M. Magalhães. Campinas. Papirus Editora.
Derrida, Jacques (2014). L'écriture et la différence. Paris. Points-Essais.
Heidegger, Martin (2012). Os problemas fundamentais da fenomenologia. Tradução: Marco Antonio Casanova Petrópolis. Vozes.
Kuhn, Thomas A. (1989). A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo. Editora Perspectiva.