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Foi Roland Barthes quem observou que não nos damos conta do poder tirânico do discurso porque não separamos o codificado do intuído. A habituação encoberta o fato de tudo o que se diz e se escreve encerra um código opressor. Cláusulas que tolhem a capacidade da mente para intuir o velado e o inexistente.
A prática de re-codificar é útil para desobstruir a faculdade heurística.
O princípio de recodificação foi defendido por Max Wertheimer (1880-1943), um dos pais fundadores da gestaltpsycologie. Wertheimer considerou a manipulação dos conceitos como uma das chaves do pensamento. Mostrou que a expressão do fenômeno em outro modo abre a possibilidade de atualizar o potencial heurístico.
Não faltam exemplos da fecundidade da recodificação. Pavlov proibiu seus assistentes de dizer que o cão adivinhou, desejou, etc., criando, com isso, o vocabulário que deu origem ao corpus teórico da etologia. Lévi-Strauss denominou de ato ou fase da bricolagem a transferência de símbolos, o deslocamento do campo, a recondução estrutural para outra realidade. Nas ciências naturais, a transposição de termos da física trouxe para a fisiologia uma série de ideias novas, como a adoção de dipolo, que vem da Teoria dos Campos (Poisson e Laplace), origem de um progresso notável na eletrocardiografia.
A recodificação não é um método. É uma técnica. Uma chave para a abertura heurística. Restaura em nós o desassombro da criança que fantasia com o jogo de cubos, descobrindo e inventando mundos vetados ao adulto.
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REFERÊNCIAS:
Barthes, Roland (2001). A aventura semiológica. Tradução de Mário Laranjeira. São Paulo. Martins Fontes.
Cherques, Hermano Roberto Thiry (2008). Métodos estruturalistas. São Paulo. Atlas.
Todes, Daniel P. (2014). Ivan Pavlov: A Russian Life in Science. New York. Oxford University Pres.
Wertheimer, Max (1991). El pensamiento productivo. Tradução de Leandro Wolfson. Barcelona. Paidós Ibérica.