Fontes da Filosofia moral – O pragmatismo de William James.

Ética.

Uma ocorrência na vida de William James fez com que encontrasse uma alternativa às éticas categóricas. Acometido de “vertigem intelectual” ao interpretar um poema de Walt Whitman, James deu-se conta de que duas disposições do nosso espírito poderiam guiar a conduta moral. Uma dogmática e canônica: a crença no transcendente que está além da vida. Outra, pragmática e verificável: a verdade de que transcende a vida particular, que está além de nós mesmos.

Sobre o segundo modo de ver, James desenvolveu uma agenda que denominou de “melhorismo”. Um termo infeliz para um conteúdo inteligente. O argumento era que no “fluxo das experiências” não há, nem pode haver valores morais válidos definitivamente. Segue-se que a moral deveria se fundar na escolha entre possibilidades. De sorte que a “salvação do mundo” consistiria em uma opção auto orientada, focada no futuro, segundo o que se considerasse o melhor para todos.

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O trabalho tal como ele nunca foi.

Trabalho.

Duas posturas obsoletas frequentam as abordagens das ciências particulares sobre o trabalho: a monista e a universalista.
A facção monista supõe que as diferenças entre os seres humanos obedecem a um princípio único. Os adeptos dessa maneira de pensar desconhecem a diversidade cultural de tipos e formas de trabalho. Ignoram que todo e cada grupo humano valoriza, pratica e descreve a atividade laboral de forma distinta.
A superstição universalista afirma que os elementa estruturais do trabalho são comuns a todas coletividades. Seus partidários consideram que as diferenças procedem de situações particulares de tempo e circunstância. Ignoram que os elementos que podem citar como characteristica universalis do trabalho, tais como a necessidade, a transformação e a obra não são universais. Que estão ausentes em muitas culturas e em segmentos relevantes da nossa própria cultura.
Ambas as convicções divergem da reflexão filosófica, que, desde o século XX, entente que as coletividades constituem estruturas axiológicas distintas. Tanto o monismo como o universalismo desprezam o conhecimento acumulado pela antropologia e pela psicologia, que desacreditam de que haja uma Natureza Humana. Por fim, as duas posições confrontam diretamente os resultados obtidos pelas neurociências, que nunca encontram algum traço apodítico – necessário e universal – em qualquer esfera da sociabilidade dos seres humanos.

UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2023 – Nietzsche – O trabalho tal como ele nunca foi.  A Ponte https://hermanoprojetos.wordpress.com/2023/11/06/o-trabalho-tal-como-ele-nunca-foi/

Para além da moralidade teórica.

Ética.

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As tentativas de hierarquizar os valores morais falham em resolver dois dilemas que se entrecruzam: o da questão ética, de como acolher o diferente e o da questão política, de como coexistir com o antagônico.

Ao arbitrarem a superioridade de um valor sobre outros, as óticas monistas invalidam a solução de consenso. Interditam buscar uma sociedade em que todos estejam de acordo sobre a moralidade básica. Já a ideia da submissão à pactos, seja o do consenso, como em Habermas, seja a do contrato imaginário, como os que vão de Hobbes até Rawls, é utópica.

Por essas razões o pluralismo se opõe tanto ao monismo, que sustenta a existência de valores exclusivos, como ao utopismo, que pensa ser possível harmonizar as concepções de bem.

Realisticamente, propõe tratar os demais como pessoas e não como indivíduos, atribuindo-lhes a liberdade moral que não fira a lógica da proteção aos direitos da alteridade e do amparo aos desvalidos.

 

UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2022 – Para além da moralidade teórica. – A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensar – https://hermanoprojetos.com/2022/03/23/para-alem-da-moralidade-teorica/

 

REFERÊNCIAS:
Berlin, Isaiah (1999). Concepts and categories: Philosophical essays. New Jersey. Princeton University Press
Cherques, Hermano Roberto Thiry (2008). Ética para executivos. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getulio Vargas.
Cherques, Hermano Roberto Thiry (1993). Sondagem sobre Valores Éticos nas Organizações Brasileiras. Cadernos EBAP. Fundação Getúlio Vargas.
Perelman, Chaïm (1990). Désaccord et rationalité des décisions. In Éthique et droit. Bruxelles. Éditions de la Université de Bruxelles.

O equívoco monista.

Ética.

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Dancer – Joan Miro – óleo sobre tela – 1925

Na tradição do Ocidente, o entendimento é de que cada dilema moral deve ter um, e somente um, desfecho correto. A questão: “devo perseguir o Bem do conhecimento ou o Bem da compaixão”, por exemplo, admitiria uma única resposta verdadeira. Os conflitos entre bens genuínos desaparecem dogmaticamente, já que para os dissolver basta arbitrar validade maior a um deles.

Essa convicção, o monismo, tem origem em outra, mais antiga: a da perfeição divina. Cizânias entre o certo e o errado e entre o certo e o mais certo seriam dirimíveis pela referência à vontade de Deus ou pela razão humana.

Ambas racionalizações vão contra a evidência da incomensurabilidade de valores. Desconhecem a impossibilidade de alcançar uma Verdade absoluta que resolvesse os dilemas positivos (o mais certo), e os dilemas negativos (o mais errado). Negligenciam que tanto o Desígnio Divino como a Razão Universal são parte do litígio entre a Opinião e a Ciência, não tendo, por isso, legitimidade para o decidir. São crenças que podem ajudar a viver, mas não ajudam a conviver, que é o propósito da filosofia moral.

 

UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2021 – O equívoco monista. A Ponte: pensar o trabalho, o trabalho de pensarhttps://hermanoprojetos.com/2021/11/12/o-equivoco-monista/