Fontes da Filosofia moral – O pragmatismo de William James.

Ética.

Uma ocorrência na vida de William James fez com que encontrasse uma alternativa às éticas categóricas. Acometido de “vertigem intelectual” ao interpretar um poema de Walt Whitman, James deu-se conta de que duas disposições do nosso espírito poderiam guiar a conduta moral. Uma dogmática e canônica: a crença no transcendente que está além da vida. Outra, pragmática e verificável: a verdade de que transcende a vida particular, que está além de nós mesmos.

Sobre o segundo modo de ver, James desenvolveu uma agenda que denominou de “melhorismo”. Um termo infeliz para um conteúdo inteligente. O argumento era que no “fluxo das experiências” não há, nem pode haver valores morais válidos definitivamente. Segue-se que a moral deveria se fundar na escolha entre possibilidades. De sorte que a “salvação do mundo” consistiria em uma opção auto orientada, focada no futuro, segundo o que se considerasse o melhor para todos.

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Heurística – sem intenção.

Epistemologia.

A ação e o movimento são duas coisas distintas. A diferença está em que o fato de eu levantar o meu braço ser uma ação, e o fato do meu braço se levantar ser um movimento (Wittgenstein).

As ações requerem esforço reflexivo que vá contra a tendência ao repouso. Podem ser simples – ligar uma máquina – ou exigirem um modelo interno de movimentos e deliberações (projeto). Podem ser individuais ou requerem uma atividade conjunta e coordenada. Existem movimentos reflexos, sem que aja ações correspondentes e existem movimentos que precisam ser acionados, seja em direção ao fim pretendido, seja na observância de um procedimento. O reflexivo e o reflexo (Davidson).

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Heurística – entre a intenção e o reflexo.

Epistemologia.

Existe um hiato entre a ação e o movimento. O que os diferencia é exemplificado pela discrepância entre o fato de que eu levanto o meu braço, que é uma ação, e o fato de que meu braço se levanta, que é um movimento. (Wittgenstein)

É possível haver movimento sem que aja uma ação. Existem movimentos reflexos, sem representação explícita das consequências, e existem movimentos que demandam serem acionados, seja em direção ao fim pretendido, seja no sentido de um procedimento a ser observado. Uma ação pode ser simples – ligar uma máquina – ou requerer um modelo interno de sequência de debates e movimentos (projeto). Pode ser individual ou solicitar movimentos coordenados.

As neurociências distinguem duas modalidades de ação. A primeira é voluntária, intencional, antecipadora do efeito e deflagrada endogenamente. A segunda é reativa, diz respeito a uma escolha, responde a um estímulo e é induzida exogenamente. O que incita as duas modalidades de ação se localiza em diferentes partes do córtex pré-frontal. Pouco mais se sabe sobre isso, além de que a forma de ação voluntária-antecipadora é mais lenta do que a forma reativa-eletiva. (Khamassi)

Os atos de descobrir e o inventar têm raízes semelhantes. A diferença entre eles está em que a descoberta se liga ao agir reativo, enquanto a invenção corresponde à esfera da causalidade fortuita [event]. O reflexo e o reflexivo (Davidson).

Nenhum dos saberes acima explica satisfatoriamente o evento heurístico, a ação produzida sem intenção.

UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry, 2023 – Heurística – entre a intenção e o reflexo. A Ponte – https://hermanoprojetos.wordpress.com/2023/05/17/heuristica-entre-a-intencao-e-o-reflexo/
REFERÊNCIAS.
Davidson, Donald 92001) Essays on Actions and Events. Oxford University Press, Nc, USA.
Khamassi, Mehdi & Élisabeth Pacheric (2018). L’action, In, La cognition : du neurone à la société. Thérèse Collins, Daniel Andler et Catherine Tallon-Baudry (dir.). Paris. Gallimard
Livet, Pierre (2005). Qu’est-ce qu’une action? Librairie Vrin
Wittgenstein, Johan Joseph Ludwig (1967). Zettel. Oxford, Blackwell.