Depois de Wittgenstein: o Outro, como outro.

Ética.

Schiele

A filosofia moral, influenciada por Wittgenstein rejeita o essencialismo, a doutrina da natureza humana estática.  Afirma que, da mesma forma que as crianças captam as práticas e regras da família ou que adquirem um determinado sotaque, nós traduzimos todo conceito para o espaço-tempo social ao qual pertencemos.

Do ponto de vista não-essencialista, a eticidade decorre invencivelmente da forma de vida em que estamos imersos e da nossa inserção nela. A conduta moral é conformada pelo que, em outra chave, Bourdieu denominou de habitus: o sistema de disposições duráveis e transponíveis que, integrando todas as experiências passadas, funciona a cada momento como uma matriz de percepções, de apreciações e de ações.

A comunicação instantânea intensificou o que Wittgenstein havia assinalado. Mediante abstração imaginativa, habilitamo-nos a reconhecer que outras formas de vida admitem o incesto, o assassinato religioso e práticas segregacionistas que são, para nós, desconhecidas, estranhas e repugnantes.

O problema ético que hoje enfrentamos é menos o da intolerância do que o da diluição das identidades. A destribalização – um termo criado por McLuhan – nos fez esquecer que decodificar os conceitos morais de outras formas de vida não significa que devamos as compartilhar, aceitando passivamente uma aculturação degradante.

 
UTILIZE E CITE A FONTE.
CHERQUES, Hermano Roberto Thiry (2024). Depois de Wittgenstein: o Outro, como outro. – https://hermanoprojetos.wordpress.com/2024/04/26/depois-de-wittgenstein-o-outro-como-outro/
REFERÊNCIAS:
Cherques, Hermano Roberto Thiry (2008). Métodos estruturalistas. São Paulo. Atlas
McLuhan, Marshall (1989). The Global Village: Transformations in world life and media in the 21st century. UK. Oxford University Press
Susan Hurley (1990). Natural reasons. Oxford U. Press.
Wittgenstein, Ludwig (2009) Investigações filosóficas. Tradução de Marcos G. Nontagnoli. Petrópolis. Vozes [§ 293]
Wittgenstein, Ludwig (2014). Cadernos 1914-1916. (julho 1916). Lisboa. Edições 70
Wittgenstein, Ludwig. (2005) Observações Filosóficas. Tradução de Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo. Edições Loyola.

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